31 de mar. de 2010

Nota sobre a violência nos campi

Porto Alegre, 29 de março de 2009.

Magnífico Reitor, Professor Carlos Alexandre Netto


Vimos, por meio desta, manifestar nossa preocupação com os últimos acontecimentos em nossa Universidade, relacionados à violência dentro dos campi da UFRGS, no contexto das recentes manifestações públicas de segmentos de nossa comunidade acadêmica.

  1. No dia 03 de março deste ano, um grupo pacífico de mulheres agricultoras foi quase impedido de entrar no campus Central, pela segurança da UFRGS. Foi preciso a intervenção, igualmente pacífica, de estudantes, funcionários, técnicos, bem como de participantes de movimentos sociais – campesinos e urbanos - que ali se encontravam. O objetivo era de participarem de uma aula pública no pátio da FACED. Não entendemos como uma Universidade, da importância e relevância que tem a UFRGS, tentou impedir o direito de livre acesso, garantido pela Constituição, ainda mais nesta Instituição Pública e de qualidade que é a nossa Universidade. Infelizmente, cenas e atos de violência ocorreram, por parte da segurança, além da presença da Brigada Militar, já postada nas imediações.

  1. No dia 05 de março, novamente e infelizmente, assistimos e sofremos com a violência por parte de nossa Universidade, nas pessoas da segurança, contra um grupo pacífico de estudantes, professores, técnicos e integrantes de movimentos sociais, que aguardava na porta da Reitoria para solicitar aos conselheiros do CONSUN a retirada de pauta do tópico "Parque Tecnológico". Mais uma vez a Brigada Militar fora convocada e postada nas proximidades, aguardando ser convocada (o que foi usado como ameaça várias vezes). No inevitável confronto gerado por esta postura intransigente, vários estudantes e funcionários saíram machucados.

  1. Como é do conhecimento de todos, uma comissão do CONSUN recebeu os manifestantes e acordou-se em fazer uma reunião de acertos para uma rodada de Audiências Públicas com a comunidade. Das quatro Audiências acertadas, apenas duas foram agendadas, e com o nome de "Debates Públicos". Mesmo assim, entendíamos que tudo estava pacificado e um acordo entre as partes, consolidado. No fim da tarde de quarta-feira, porém, dia do 1° Debate no auditório da Informática do Campus do Vale, nos deparamos com uma situação muito peculiar e que nos preocupou muito. Uma informação errônea, alarmista e perigosa, foi difundida, principalmente na parte superior do Campus, onde se realizou a Audiência, de que haveria uma “invasão” e provável depredação de bens públicos.

  1. Vário(a)s funcionário(a)s ficaram muito nervoso(a)s com a situação, alguns prédios foram trancados, pessoas foram mais cedo para casa, e até recomendaram ao dono do bar na Informática, onde ocorreu o debate, que fechasse. Por fim, a segurança da UFRGS apareceu mais uma vez, postando-se diante do prédio do auditório da Informática para "acompanhar" o ingresso dos participantes no recinto. Não foi permitido entrar com faixas, nem mesmo retirando os suportes de madeira. Lamentamos profundamente a reedição de práticas que tínhamos como extintas com o fim da ditadura. A justificativa da preservação do patrimônio público não procede neste tipo de situação, já que era o dia e local em que se realizaria um DEBATE aberto a toda a comunidade, e ainda por cima, um debate cujo direito fora conquistado a tão duras penas.

  1. Com efeito, não houve qualquer tipo de tumulto no decorrer do debate. Durante cerca de duas horas houve uma qualificada exposição de pontos de vista sob a atenta participação de grande platéia, formada principalmente por estudantes. O resultado foi um belo exercício coletivo do direito de ouvir e ser ouvido. Muitas dúvidas foram esclarecidas, preocupações enunciadas, e demandas apresentadas. Exatamente como deveria ser.

  1. Consideramos indispensável e urgente o retorno à normalidade, bem como o respeito à livre manifestação de posições que deve caracterizar um espaço republicado como sempre deveria ser nossa Universidade. Para isto, é indispensável a imediata desativação do "estado de alerta" instituído pela Administração. Em vez disto, à Administração e à liderança do Reitor cabe contribuir para que o clima de paz e democracia, no mesmo sentido da ação que vêm realizando os membros do Conselho em sua interação com os segmentos que demandaram a participação de todos nos encaminhamentos sobre o Parque. Este é o momento de pacificar os ânimos, de continuar o debate acordado entre as partes em um clima harmônico e cooperativo.




Nesse sentido, manifestamos nossa preocupação e confiamos em sua decisiva atuação para que servidores não mais sejam constrangidos a agredir colegas, alunos e professores; para que os debates aconteçam nos espaços que foram construídos e nos espaços institucionais, sem serem maculados pela disseminação de boatos e falsas ameaças; para que não haja constrangimento daqueles que legitimamente manifestam posições diferentes da sua; para que nossa Universidade saia mais qualificada e mais democrática deste processo.


Fórum por um Parque Tecnológico Alternativo

Seção Sindical do ANDES-SN na UFRGS

ASSUFRGS

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