Porto Alegre, 29 de março de 2009.
Magnífico Reitor, Professor Carlos Alexandre Netto
Vimos, por meio desta, manifestar nossa preocupação com os últimos acontecimentos em nossa Universidade, relacionados à violência dentro dos campi da UFRGS, no contexto das recentes manifestações públicas de segmentos de nossa comunidade acadêmica.
- No dia 03 de março deste ano, um grupo pacífico de mulheres agricultoras foi quase impedido de entrar no campus Central, pela segurança da UFRGS. Foi preciso a intervenção, igualmente pacífica, de estudantes, funcionários, técnicos, bem como de participantes de movimentos sociais – campesinos e urbanos - que ali se encontravam. O objetivo era de participarem de uma aula pública no pátio da FACED. Não entendemos como uma Universidade, da importância e relevância que tem a UFRGS, tentou impedir o direito de livre acesso, garantido pela Constituição, ainda mais nesta Instituição Pública e de qualidade que é a nossa Universidade. Infelizmente, cenas e atos de violência ocorreram, por parte da segurança, além da presença da Brigada Militar, já postada nas imediações.
- No dia 05 de março, novamente e infelizmente, assistimos e sofremos com a violência por parte de nossa Universidade, nas pessoas da segurança, contra um grupo pacífico de estudantes, professores, técnicos e integrantes de movimentos sociais, que aguardava na porta da Reitoria para solicitar aos conselheiros do CONSUN a retirada de pauta do tópico "Parque Tecnológico". Mais uma vez a Brigada Militar fora convocada e postada nas proximidades, aguardando ser convocada (o que foi usado como ameaça várias vezes). No inevitável confronto gerado por esta postura intransigente, vários estudantes e funcionários saíram machucados.
- Como é do conhecimento de todos, uma comissão do CONSUN recebeu os manifestantes e acordou-se em fazer uma reunião de acertos para uma rodada de Audiências Públicas com a comunidade. Das quatro Audiências acertadas, apenas duas foram agendadas, e com o nome de "Debates Públicos". Mesmo assim, entendíamos que tudo estava pacificado e um acordo entre as partes, consolidado. No fim da tarde de quarta-feira, porém, dia do 1° Debate no auditório da Informática do Campus do Vale, nos deparamos com uma situação muito peculiar e que nos preocupou muito. Uma informação errônea, alarmista e perigosa, foi difundida, principalmente na parte superior do Campus, onde se realizou a Audiência, de que haveria uma “invasão” e provável depredação de bens públicos.
- Vário(a)s funcionário(a)s ficaram muito nervoso(a)s com a situação, alguns prédios foram trancados, pessoas foram mais cedo para casa, e até recomendaram ao dono do bar na Informática, onde ocorreu o debate, que fechasse. Por fim, a segurança da UFRGS apareceu mais uma vez, postando-se diante do prédio do auditório da Informática para "acompanhar" o ingresso dos participantes no recinto. Não foi permitido entrar com faixas, nem mesmo retirando os suportes de madeira. Lamentamos profundamente a reedição de práticas que tínhamos como extintas com o fim da ditadura. A justificativa da preservação do patrimônio público não procede neste tipo de situação, já que era o dia e local em que se realizaria um DEBATE aberto a toda a comunidade, e ainda por cima, um debate cujo direito fora conquistado a tão duras penas.
- Com efeito, não houve qualquer tipo de tumulto no decorrer do debate. Durante cerca de duas horas houve uma qualificada exposição de pontos de vista sob a atenta participação de grande platéia, formada principalmente por estudantes. O resultado foi um belo exercício coletivo do direito de ouvir e ser ouvido. Muitas dúvidas foram esclarecidas, preocupações enunciadas, e demandas apresentadas. Exatamente como deveria ser.
- Consideramos indispensável e urgente o retorno à normalidade, bem como o respeito à livre manifestação de posições que deve caracterizar um espaço republicado como sempre deveria ser nossa Universidade. Para isto, é indispensável a imediata desativação do "estado de alerta" instituído pela Administração. Em vez disto, à Administração e à liderança do Reitor cabe contribuir para que o clima de paz e democracia, no mesmo sentido da ação que vêm realizando os membros do Conselho em sua interação com os segmentos que demandaram a participação de todos nos encaminhamentos sobre o Parque. Este é o momento de pacificar os ânimos, de continuar o debate acordado entre as partes em um clima harmônico e cooperativo.
Nesse sentido, manifestamos nossa preocupação e confiamos em sua decisiva atuação para que servidores não mais sejam constrangidos a agredir colegas, alunos e professores; para que os debates aconteçam nos espaços que foram construídos e nos espaços institucionais, sem serem maculados pela disseminação de boatos e falsas ameaças; para que não haja constrangimento daqueles que legitimamente manifestam posições diferentes da sua; para que nossa Universidade saia mais qualificada e mais democrática deste processo.
Fórum por um Parque Tecnológico Alternativo
Seção Sindical do ANDES-SN na UFRGS
ASSUFRGS
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